O papel do exercício físico na prevenção do suicídio associado à depressão

Camila Baumer Tromm

Aderindo a campanha Setembro Amarelo para prevenção ao suicídio e valorização da vida, trago algumas informações pertinentes, acreditando fortemente no potencial do exercício físico como ferramenta para auxiliar na prevenção e tratamento de transtornos mentais.

Suicídio é uma das maiores causas de mortalidade ao redor do mundo, especialmente entre sujeitos jovens. Devido a sua crescente prevalência, esta condição tem sido considerada como uma questão de saúde pública. Suicídio é considerado o desfecho de um fenômeno complexo e multidimensional (interação de diversos fatores). A associação entre depressão e comportamento suicida tem sido largamente descrita. A depressão é uma doença psicossomática, significando que o fluxo de influências para o seu surgimento é bidirecional, corpo e mente se influenciam mutuamente (sintomas orgânicos e emocionais). O estresse crônico é um fator fortementeassociado com o desenvolvimento da depressão. Embora os mecanismos sejam complexos e ainda pouco elucidados, há evidências de que o grau de inflamação induzido pelo estresse crônico desempenha um papel na origem da depressão. Mais de 264 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com depressão (OMS). O distúrbio é a principal causa de incapacidade laboral do mundo e pode levar ao suicídio, que atinge 800 mil indivíduos por ano. Dentre os deprimidos, dependência química, ansiedade grave, crises de pânico, agitação e insônia aumentam a chance de morte por suicídio. Portanto, podemos concluir que pessoas acometidas por depressão têm maior risco de suicídio. O risco é maior na vigência da doença e de comorbidades. O risco é menor quando a doença é tratada ou está em remissão. 

Nesse contexto, estudos que relacionam a prática de exercícios físicos a tratamentos contra depressão e ansiedade possuem extrema importância por serem de baixo custo e eficazes. Esta atividade pode e deve seruma alternativa associada a outros recursos, como psicoterapia e medicamentos.

O papel do exercício físico 

A hipótese comumente associada ao êxito dos exercícios físicos no auxílio do tratamento da depressão é a de um aumento na liberação de catecolaminas(serotonina, dopamina e noradrenalina) após cada sessão de exercício e conforme a prática for estabelecida semanalmente. Após algumas semanas de exercícios físicos há maior disponibilidade de serotonina central, amenizando o quadro de sintomas da doença, produzindo um efeito relaxante e analgésico, equilibrando positivamente o estado de humor. Já a dopamina está relacionada com o desempenho motor, a motivação locomotora e a modulação emocional.  Os exercícios físicos também apresentam efeitos ligados à secreção e liberação da beta-endorfina. A beta-endorfina é uma substância endógena similar à morfina, que interage com receptores nas áreas cerebrais envolvidas na maior tolerância à dor, melhor controle do apetite, do sono, da temperatura corporal e dos estados de raiva, tensão e ansiedade. A beta-endorfina desencadeia a denominada “alegria do exercício”.

Além dos já sabidos efeitos fisiológicos citados acimasomam-se os benefícios psicológicos da prática de exercício físico, contribuindo para maior socialização e convívio em grupo, e vice-versa, ou seja, melhorias no estado emocional contribuem para uma melhoria dos estados de ânimo e disposição para a prática de exercícios físicos. Existem algumas hipóteses baseadas em modelos psicológicos (concomitante aos efeitos fisiológicos) para os efeitos positivos do exercício físicoem quadros depressivos:

1) distração (interrupção do estímulo estressante);  

2) interações sociais (relacionamentos positivos); 

3) autocontrole e auto-eficácia (acreditar na própria capacidade); 

4) expectativa de mudança (esperança); 

5) prazer pela atividade (gostar de se exercitar).

Já esta claro que o treinamento físico tem um papelpositivo sobre os sintomas de ansiedade e depressão. Para que essas intervenções sejam eficazes é necessário aproximadamente 30 minutos de exercício de intensidade moderada (OMS) e que os exercícios físicos sejam sistematizados (treinamento), por serem mais eficazes do que simplesmente participar de uma atividade de lazer (o que também é válido). Os exercícios de resistência podem produzir efeitos favoráveis, porém na maioria dos estudos publicados observa-se o exercício físico aeróbio mais eficiente.

Camila Baumer Tromm

Camila Baumer Tromm

Bacharel em Educação Fisica desde 2012, Mestre em Ciências da Saúde com ênfase em fisiologia e bioquímica do exercício. Atua na área de treinamento físico em academias há 8 anos, atualmente é sócia-proprietária da academia Pulsare Fitness, onde desenvolve treinamentos para os mais diversos objetivos. Registro no Conselho Federal de Educação Física 015810