Álcool e exercício, você está fazendo isso errado

Camila Baumer Tromm

Consumir bebidas alcoólicas e praticar exercícios físicos são caminhos incompatíveis. O álcool é uma droga lícita amplamente consumida: cerca de 2,3 bilhões de adultos são consumidores ativos atualmente. Fisiologicamente já está estabelecido que o consumo de álcool acarreta danos ao metabolismo, função neural, sistema cardiovascular e termorregulador. O álcool é um conhecido depressor do sistema nervoso central (SNC) e por isso, conforme alguns autores, prejudica funções, como: a memória, o tempo de reação, a precisão de habilidades motoras finas e o sono. Portanto, ele é uma substância capaz de prejudicar a força, a potência, a resistência muscular e inclusive pode diminuir o desempenho durante o exercício.

Pesquisas recentes demonstram que o uso crônico do álcool promove a liberação de citocinas pró-inflamatórias, o que causa estresse sobre a musculatura, podendo levar à miopatia do músculo (fraqueza muscular). Também foram encontrados impactos metabólicos na ingestão do álcool logo após a atividade física, como a diminuição da ressíntese de glicogênio muscular e das proteínas musculares, através da supressão da enzima mTOR (enzima chave no processo de hipertrofia muscular).

O processo de recuperação (nas horas após o exercício) é fundamental para o desempenho do indivíduo que busca melhores resultados ao seguir um treinamento físico, sendo um evento caracterizado pelo reabastecimento do glicogênio, estímulo da síntese de proteína muscular (SPM), reidratação e restauração dos eletrólitos. Ao ingerir bebida alcoólica com teor maior ou igual a 4% o organismo sofrerá um aumento na produção de urina consequentemente retardando o processo de reidratação e SPM. 

Ao substituir alimentos nutritivos por álcool, tanto a reposição do glicogênio como a sinalização celular para hipertrofia/reparo muscular será prejudicada, podendo até inibir este processo. 

Um estudo realizado em 2014 descobriu que houve redução de 37% nas taxas de SPM quando o álcool foi consumido na ausência de ingestão proteica pós-exercício, já que a intoxicação diminui a adesão do praticante as práticas de recuperação sólidas. Também observaram que mesmo quando a proteína era consumida em quantidades que se mostraram eficazes para estimular a SPM, durante a recuperação pós-exercício, a ingestão de álcool reduziu a SPM em aproximadamente 24%, o que representa apenas um ‘resgate’ parcial da resposta anabólica comparada à proteína isolada (sem álcool). Ademais, o álcool afeta a absorção e a utilização de diversos nutrientes, e sua ingestão excessiva pode reduzir a capacidade do intestino em absorver vitamina B12, tiamina e folato. Além disso, as células do fígado podem se tornar ineficientes na ativação da vitamina D e o metabolismo do álcool destruir a vitamina B6. Não obstante, as deficiências nutricionais podem ter sérias implicações no crescimento muscular, na saúde e no desempenho do praticante.

Outra descoberta foi que, o álcool consumido em altas doses, pode aumentar os níveis de cortisol (responsáveis por estimular a degradação das proteínas) e diminuir a secreção de testosterona (responsável pela da síntese de proteínas).  Ou seja, interferindo diretamente no crescimento muscular, densidade óssea e glóbulos vermelhos. Devido a isso, seu consumo deve ser evitado ao máximo por indivíduos que tenham como objetivo a hipertrofia e desempenho muscular. 

Camila Baumer Tromm

Camila Baumer Tromm

Bacharel em Educação Fisica desde 2012, Mestre em Ciências da Saúde com ênfase em fisiologia e bioquímica do exercício. Atua na área de treinamento físico em academias há 8 anos, atualmente é sócia-proprietária da academia Pulsare Fitness, onde desenvolve treinamentos para os mais diversos objetivos. Registro no Conselho Federal de Educação Física 015810