Entendendo a morte no desenvolvimento humano

Silvana Ghellere Cavalheiro

A morte não é apenas o fato de alguém ter feito uma passagem para outro universo, mas, a perda de um emprego tão sonhado, o amor que se desfez, o animal de estimação que há anos acompanhava a família e que já não existe mais.

A luta incansável pela cura, um acidente inesperado, uma notícia desagradável, a falência de algo que fora difícil de conquistar, um projeto interrompido, a batalha de tentar ser mãe, enfim, entender a morte como um todo, como fases de vida, como um ciclo natural, e não somente no morrer.

Vivenciando o luto

Fonte: retirado do site pt.azimage.com

Passamos diariamente por perdas e sofrimentos, por dores menores que não necessariamente seja por morte, e que o sofrimento é algo natural como outros sentimentos que vivenciamos, por exemplo: saudade, desejo, vontade, tristeza.

Desde a infância a criança vivencia a ausência da mãe, percebidas como morte, como na separação da criança com a mãe no período escolar, na relação materna com falta de acolhimento e afetividade com a criança, falta de carinho, atenção, colo, amparo e compreensão, que, por muitas vezes pode resultar numa adolescência conturbada, desafiadora e com pretensão de risco de suicídio diante situações desafiadoras como, por exemplo, o término de um relacionamento ou amor não correspondido, muito freqüente nesta fase.

Como relata a escritora Kovács (2002) à adolescência é uma fase de descobertas, mudam sentimentos, desejos, a mentalidade, o corpo físico, e o despertar pela descoberta do amor e da paixão. Algumas obras literárias do Romantismo relatavam histórias sobre pessoas que se matavam por amor, devido ao amor proibido ou não correspondido, que deu origem a expressão “morrer de amor”, um exemplo de uma obra clássica conhecida é Romeu e Julieta, onde ambos se matam por não poder viver o amor sendo este proibido pelas suas famílias. As formas mais fortes da morte ligam-se ao caráter de seduzir ao outro, visto em lendas como sereias, botos, etc.

Outro fator relevante que traduz em muitas mortes é o uso e abuso de drogas e álcool que são frequentes desde o período da infância até a idade adulta, visto que as substâncias provocam nos usuários alterações de consciência, prazer simultâneo, alucinações, desinibição como também provocar acidentes irreversíveis levando a morte e crises de abstinências que podem provocar o suicídio.

O escritor Garma (1973) apud Kovács (2002) levantou hipóteses para explicar as seguintes representações de morte para o suicida: 

  1. Livrar-se dos conflitos existentes.
  2. Buscar uma vida diferente da vida que se tinha.
  3. Acreditar se encontrar com pessoas diferentes.
  4. Buscar beleza na morte.
  5. Tentar fugir de alguma situação que não consiga tolerar.
  6. Busca de amor, união sexual.
  7. Busca de perfeição narcísica.
  8. Se satisfizer com a dor, se castigar.
  9. Satisfação instintiva.

 

O individuo que pretende cometer suicídio não morrerá sozinho, os amigos, á família, e demais pessoas que conviviam com este individuo ficarão com marcas deste fato tão cruel, frio e muitas vezes calculista, atos que a insatisfação pessoal, o desejo não atendido é mais facilmente resolvido pelo suicida matando-se do que tentando ajudar-se de alguma maneira.

Comportamento suícida

Fonte: retirado do blog vannybraga.wordpress.com

Para muitas pessoas a morte assim como as perdas não é compreendida, como cita a autora Kübler – Ross (2008) no seu livro sobre a morte e o morrer é difícil aceitar a morte e por esta razão existem várias maneiras de fugir para não encará-la, porque morrer é triste demais, solitário, mecânico e desumano.

Durante o processo de luto é importante deixar que o enlutado tenha seu tempo para elaborar o luto, sentimentos de tristeza, choro freqüente, desânimo, e falta de vontade até na realização de tarefas simples que podem aparecer, pois, cada pessoa dispõe de um tempo para elaborar seu luto podendo durar meses ou anos, podendo se manifestar por luto normal como patológico, que neste caso precisa de ajuda de um profissional Psicólogo para trabalhar e superar o luto através de sessões de terapia.

 As manifestações das pessoas enlutadas precisam ser trabalhadas para que se possam retornar as suas atividades de rotinas, como: voltar a viver, a sonhar, a idealizar uma meta, a conquistar um novo amor, a procurar por outro emprego, desenvolver novos projetos, refazer o que foi desfeito, é buscar alternativas para que possa se reerguer do luto que já viveu ou ainda vive, apesar das dores e sentimentos que poderão existir por algum tempo e, é aprender como lição que o que foi levado, retirado, interrompido possa ser refeito no agora, e que aquele que se foi, seja inspiração para continuação da vida.

 Silvana Ghellere Cavalheiro

Psicologa