O mito do curador ferido

Scheila Bendo Ferreira

Você já ouviu falar sobre um ser imortal que tinha a capacidade de curar aos outros, exceto a si mesmo? Quíron, assim conhecido na mitologia grega, foi um centauro fruto da união de Cronos, o Deus do tempo com a ninfa Felíra.

Abandonado pelos pais, devido a sua aparência (metade homem, metade cavalo) ele foi criado como filho por Apolo, Deus do sol, que juntamente com sua irmã Ártemis lhe ensinaram todo o conhecimento e sabedoria dos deuses.

Quíron, era reconhecido por ser um sábio e excelente professor. Conhecia como ninguém os assuntos relacionados a astrologia e era um curandeiro respeitado por todos. Tinha o dom de curar as pessoas através das ervas e dos segredos medicinais.

Certo dia, Quíron foi atingido acidentalmente por uma flecha envenenada. Devido a sua imortalidade, a flecha não o matou, porém o veneno o feriu profundamente, provocando dores terríveis. Mesmo sendo o mestre de todas as curas, ele não era capaz de curar a si mesmo.

Tamanho era o seu sofrimento que Quíron intercedeu a Zeus para que permitisse que ele pudesse abdicar da sua imortalidade em troca da vida de Prometeu, o Deus que roubou o fogo dos deuses e o deu aos homens. Zeus atendeu o seu pedido e ele pode finalmente descansar.

Na astrologia, Quíron está associado a capacidade que temos de curar a dor do outro, mesmo não sendo capazes de curar a nossa própria dor. Ironicamente, somos capazes de auxiliar o outro naquilo que ainda não somos capazes de fazer por nós mesmos.

Todos nós em algum aspecto ou em determinados momentos de nossas vidas podemos ser “curadores feridos”. Diante de uma ferida profunda que não conseguimos curar, temos a oportunidade de transcender a nossa própria dor através da cura da ferida do outro.

Podemos exercer uma influência curativa na vida das pessoas. Um gesto carinhoso, um conselho, um olhar de ternura, uma palavra amiga, um abraço apertado, um sorriso sincero ou apenas estar presente podem ajudar o outro a curar-se.

Que atire a primeira pedra quem nunca colocou sua própria dor no bolso, enxugou as lágrimas, deu um sorriso forçado e fingiu estar tudo bem apenas para poder amparar um amigo, um parente, um vizinho, aquela pessoa especial ou simplesmente um desconhecido na rua.

Você já percebeu como estamos todos conectados? Já lhe aconteceu de não saber como resolver um problema e por “acaso”, alguém aparece te pedindo ajuda por que não consegue resolver uma questão parecida com a tua?

Já percebeu também que nessas horas você se torna um sábio conselheiro capaz de iluminar a consciência da pessoa aflita na sua frente? Pode parecer contraditório, mas, se não souber como curar a sua ferida, experimente ajudar o outro a curar-se.

Talvez, seja exatamente este o segredo para a nossa própria cura interior: Auxiliar o outro no seu processo de cura. Por vezes, só começamos a curar a nossa própria dor, quando aprendemos a compreender a dor do outro.

Doe-se! Na pior das hipóteses, se a sua ferida não cicatrizar, ao menos você pode esquecer dela por alguns momentos enquanto se ocupa levando luz e cor à vida de alguém. Pense nisso!

Scheila Bendo Ferreira

Graduada em Gestão de Recursos Humanos com especialização em Desenvolvimento Humano e Organizacional. Reikiana e apaixonada por assuntos relacionados a comportamento, autoconhecimento e espiritualidade.