Nesta vida eu só não “matei” e não “roubei”, será?

Scheila Bendo Ferreira

Sentada no banco da igreja, ouvi algumas palavras do padre durante a homilia que ficaram ecoando entre meus pensamentos. Segundo ele, algumas pessoas no ato de se confessarem, como forma de expressar que reconhecem e assumem seus erros utilizam a seguinte frase: “Nesta vida, eu só não matei e não roubei, de resto eu já pequei de tudo um pouco.”

No entanto, considero que o sacerdote foi muito feliz nas suas colocações quando deixou no ar a seguinte reflexão: Será? O convite para nós nos questionarmos interiormente sobre os nossos próprios atos, foi muito claro.

Obviamente, se levarmos em consideração o ato físico, concreto e material sobre o que é roubar e matar, facilmente chegaremos à conclusão de que realmente muitos de nós não cometeu nada de ilícito, por tanto, nada temos a temer.

Mas, e aquilo que é intangível?

Sabe aquela “coisa” que resulta dos nossos atos, sejam eles conscientes ou não e que praticamos dia após dia? Vou explicar melhor…

Quantos sonhos já matamos, inclusive e principalmente das pessoas que nos são mais “caras”, aquelas que julgamos amar, quando invalidamos suas ideias, desestimulamos seus desejos, inferiorizamos suas qualidades e cruzamos os braços nos momentos em que elas só precisavam de um “eu estarei aqui” independente do que aconteça.

Sabe-se lá quantas vezes já roubamos de alguém boas e significativas oportunidades só porque tivemos a necessidade de rotular e fazer prejulgamentos de uma pessoa que sequer conhecemos. Não sabíamos qual era sua história, suas batalhas, seus medos, suas habilidades, mas estávamos lá inteiramente disponíveis para destilar nossa tão inflada e valiosa opinião.

Quantas vezes já matamos alguém por dentro por um momento de insensibilidade, um ato impensado, uma palavra áspera e pela nossa total incapacidade de enxergar além de nós mesmos.

Já parou para pensar que aquilo que é aparentemente intangível aos nossos olhos constantemente é aquilo que mais provoca dor no outro e em nós mesmos?

Quantas oportunidades nos são dadas para agirmos com bondade e empatia, mas ao invés disso, escolhemos com indiferença e má vontade?

Talvez, sejam nesses pequenos detalhes em que estejamos matando ou roubando sem sequer nos darmos conta do quão impactante podem ser o resultado de nossas atitudes, escolhas, gestos e palavras.

Seja diante de um confessionário ou de um espelho, não me restam dúvidas, diversas vezes já “matei” e já “roubei”, inclusive de mim mesma. E você?

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Scheila Bendo Ferreira

Graduada em Gestão de Recursos Humanos com especialização em Desenvolvimento Humano e Organizacional. Reikiana e apaixonada por assuntos relacionados a comportamento, autoconhecimento e espiritualidade.