Para entendermos o que aconteceu nos Estados Unidos

Marcos Spilere

Fala, galera! Tudo bem? Esse vai ser um período que vou aparecer menos por aqui, por conta dos meus compromissos acadêmicos, já que é meu último ano de curso e já está sendo um ano de muita dedicação aos estudos. Porém, não vou deixar de escrever aqui e conversamos sobre os rumos políticos do nosso país e do mundo. Bora lá entender o que aconteceu nos Estados Unidos semana passada?

O MAL PERDEDOR

Como já discuti aqui na coluna anterior, o presidente americano Donald Trump, desde o dia em que perdeu as eleições em novembro do ano passado, vem alegando que a eleição foi fraudada e que ele foi o vencedor por uma grande margem, deslegitimando a vitória do presidente-eleito Joe Biden. Ele, é claro, entrou na Justiça, porém perdeu dezenas de processos, cujos juízes não acataram as suas reclamações, tendo em vista que sua defesa não conseguiu provar nenhuma das alegações de fraude nas eleições. 

O inusitado é que ele afirma que houve fraude nas eleições somente nos estados em que perdeu, sem mencionar que nestes mesmos estados vários candidatos a deputados e senadores republicanos (partido de Trump) se elegeram. 

O clima começou a se acirrar em meados de dezembro, já que o governo estava obstruindo a transição de poder até o limite. Mesmo após os delegados votarem em 14 de dezembro, oficializando a vitória de Biden, Trump continuou incitando o seu eleitorado a não acreditar nos resultados das eleições, até que chegou o fatídico dia 6 de janeiro.

O BARRIU DE PÓLVORA EXPLODIU

Na terça-feira, dia 5, as duas últimas vagas em disputa para o Senado foram escolhidas, onde os eleitores do estado da Georgia decidiram que dois democratas irão representa-los no Senado Federal, fazendo o partido democrata conquistar 50 cadeiras na casa, consolidando a maioria, já que a vice-presidente eleita Kamala Harris é constitucionalmente prevista como Presidente do Senado e pode votar em casos de empate nas votações.

Nesse cenário, foi convocado um comício com o presidente Trump para o dia 6, em Washington DC, no mesmo dia em que o Congresso estaria reunido para certificar os resultados das eleições de novembro. Essa sessão do Congresso geralmente é uma sessão apenas para cumprir formalidades, presidida pelo vice-presidente Mike Pence. Nesse ano, porém, alguns parlamentares republicanos estavam dispostos a obstruir o resultado de alguns estados. Alguns quilômetros dali, o presidente Donald Trump discursava para uma multidão, reiterando o discurso de fraude e incitando seus apoiadores a marcharem até o Congresso, onde estava acontecendo a certificação dos resultados.

Milhares de apoiadores fizeram não só isso, como algumas centenas, inclusive alguns armados, invadiram o Congresso. A sessão de certificação teve de ser interrompida e os deputados e senadores foram orientados a se esconderem dentro do prédio. A polícia fez um lockdown no prédio, não permitindo ninguém de sair, com exceção do vice-presidente Mike Pence, que foi retirado. Enquanto isso, Trump no Twitter chamava o seu vice, Pence, de covarde, porque “não teria feito o que era preciso”. Trocando em miúdos, Donald Trump chamou o vice-presidente de covarde por não levar à cabo um Golpe de Estado.

AS REAÇÕES

Após algumas horas de tensão e ânimos acirradíssimos, que resultaram em 5 mortos, quando a “mais duradoura democracia do mundo” foi atacada de maneira enfática pelo próprio Presidente, a polícia do Capitólio conseguiu expulsar os invasores e estabelecer a ordem no prédio. A sessão foi retomada e os próprios parlamentares republicanos condenaram veementemente o ataque, indo ao encontro da fala do vice-presidente Pence, que disse que todos aqueles atentaram contra a democracia americana não irão sair impunes. Alguns parlamentares que apoiavam a obstrução dos resultados, recuaram após o ataque e desistiram da obstrução, resultando na certificação da vitória do presidente-eleito Joe Biden que toma posse no próximo dia 20.

Logo após o incidente houve manifestações no sentido de convocar a 25ª emenda da Constituição Americana que é quando o vice-presidente e a maioria do Gabinete do presidente concluem que o presidente é incapaz de cumprir os poderes e deveres do cargo, removendo-o da presidência.

Como a medida dependeria do próprio vice-presidente, mesmo tendo rompido relações com Trump, é improvável que a medida ocorra. O que é mais viável de acontecer é um impeachment de Donald Trump. A presidente da Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados), Nancy Pelosi, vai colocar em apreciação no plenário da casa o impeachment de Trump nessa semana. Na câmara é provável que o impeachment passe, já que os democratas são a maioria e é necessária metade mais um dos votos para que o processo siga para o Senado. No Senado, além do voto dos democratas, alguns republicanos teriam que votar contra o Presidente. Nos bastidores, se especula que Trump tem mais desafetos do que se pode imaginar. O impeachment em si, só ocorreria em tempo hábil após a posse de Joe Biden, não importando na prática aos atos do governo Trump, que ao que tudo indica só iria sair da presidência no dia 20 mesmo, mas o processo pode impedi-lo de concorrer novamente às eleições em 2024.

O PARTIDO DO TRUMP

Os eventos das últimas semanas evidenciaram o racha entre os líderes do partido republicano e o Presidente Trump. Senadores, Governadores e Deputados estão condenando veementemente as atitudes do presidente. No estado da Georgia, membros do partido falam que ele foi o principal responsável pela derrota dos candidatos ao Senado pelo partido no estado. 

Enquanto isso, os apoiadores de Trump chamam os republicanos que não obstruíram a certificação das eleições de “traidores” e já pedem para que o presidente crie um partido próprio. Não existe mais Trump do Partido Republicano. Agora é Trump, do Partido Trump.

Em contrapartida, especula-se que a filha do presidente, Ivanka Trump, está adotando o tom mais conciliador na Casa Branca, inclusive com indicativos que comparecerá a posse de Joe Biden. Ela teme que o comportamento do pai possa impactar negativamente sua potencial carreira política, já que ela é cotada para participar das eleições de 2024. 

OS REFLEXOS NO BRASIL

O clima de polarização política vivida nos Estados Unidos na última década é muito semelhante ao clima evidenciado aqui no Brasil. O Presidente Bolsonaro comentou o episódio em Washington e falou que: “se nós não tivermos o voto impresso em 2022 (…) nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”. Não é de hoje que Bolsonaro faz campanha para deslegitimar a segurança do voto no Brasil, inclusive, no início de 2020 afirmou que tinha provas que teria vencido a eleição de 2018 em 1º turno. Quase um ano depois, nenhuma prova foi apresentada.

Então é isso, pessoal, fiquem ligados nessa semana que será bem movimentada na política internacional e também fiquemos de olho nas movimentações para a eleição das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Abraços.

Marcos Spilere

Marcos Spilere

Acadêmico de direito da UNESC, fascinado pelos livros, política e futebol. Sempre fui um defensor do debate, do diálogo e da construção de ideais. O conhecimento nos transforma. Vamos conversar sobre a política?