Os próximos 4 anos

Marcos Spilere

O Processo Eleitoral está encerrado no Brasil. A população decidiu quem vai governar os municípios pelos próximos 4 anos, bem como os vereadores que irão legislar pelo próximo mandato. E depois de um tempo “off”, em que eu falei que não iria comentar sobre as eleições municipais, estou aqui para discutirmos o panorama geral das eleições por todo Brasil. Bora lá?

O BOLSONARISMO PERDEU NAS URNAS?

Bom, como todos sabem, o plano do Presidente Bolsonaro para as eleições de 2020 era já ter estruturado o seu próprio partido, o Aliança. Isso não foi possível porque o partido não conseguiu a quantidade de assinaturas de apoio suficiente antes do prazo para a disputa das eleições. Desse modo, os candidatos ditos “bolsonaristas” se pulverizaram entre alguns dos 33 partidos políticos brasileiros. O PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente, sofreu com a “migração” dos bolsonaristas e conquistou apenas 90 prefeituras pelo país, sendo apenas o 16º partido em número de eleições vencidas.

Talvez por conta disso, o Presidente optou por não ser protagonista nessas eleições, servindo de cabo eleitoral para pouquíssimos candidatos, fazendo apenas declarações curtas de apoio, em lives. Apesar do apoio do presidente, a maioria dos candidatos por ele expressamente apoiados (quando digo “expressamente”, digo aqueles que o presidente manifestou apoio em lives), não obtiveram êxito. Dos 13 candidatos a prefeito mencionados por Bolsonaro, apenas 2 foram eleitos e 2 foram para o 2º turno (Crivella no Rio de Janeiro e Capitão Wagner em Fortaleza) mas acabaram também derrotados. Nesta seleta lista de 13 candidatos, figurou a candidata do PL de Criciúma, Julia Zanatta, que ficou em 3º lugar, com menos de 7 mil votos (7,03%).

Apesar do fracasso nos apoios, Carlos Bolsonaro, o 02 (zero dois), concorreu a reeleição para a câmara municipal do Rio de Janeiro e foi o 2º mais votado, com 71 mil votos cravados. É inegável que a falta de um partido “oficial” prejudicou muito o “bolsonarismo”, mas é igualmente inegável que quando olhamos para a política municipal, a influência do presidente é muito mais limitada.

PARTIDOS DO CENTRÃO GANHAM FORÇA

A época em que MDB, PSDB, PT e DEM (antigo PFL) controlavam sozinhos mais de 60% das prefeituras brasileiras passou. A fragmentação partidária vem crescendo a cada período eleitoral, e o que ficou evidente neste pleito é que os partidos do famoso “centrão” ganharam força.

O MDB continua sendo o partido com mais prefeituras (784), número bem inferior as 1.035 prefeituras conquistadas em 2016. O PP se tornou o 2º partido em número de prefeituras, com 685 e o PSD em 3º, com surpreendentes 654 prefeituras, 117 a mais que em 2016. O Republicanos dobrou seu número de prefeituras, de 103 foi a 211. O PT vem diminuindo a cada eleição. Em 2012 atingiu seu auge, com 630 prefeituras. Sofreu uma vertiginosa queda em 2016, com 254 prefeituras e neste pleito conquistou apenas 183, ficando pela primeira vez sem nenhuma prefeitura de capital. O partido que já chegou a ser o 3º do Brasil em número de prefeituras, agora ocupa o 11º lugar.

Nas capitais o destaque é para o DEM, que aparentemente ressurgiu das cinzas. Além de eleger 464 prefeitos, fez os prefeitos de 4 importantes capitais brasileiras: Florianópolis, Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. O MDB fez 5: Boa Vista, Cuiabá, Goiânia, Teresina e Porto Alegre. O PSDB fez 4: Natal, Palmas, Porto Velho, e a maior prefeitura do Brasil, São Paulo.

O CAMINHO DA ESQUERDA MUDOU?

Como já falei, o PT diminuiu mais uma vez, está chegando em número de prefeituras ao nível dos partidos considerados “nanicos”. Mas para onde estão indo então os votos da esquerda brasileira? Afinal, temos que analisar a realidade como ela é, e nos últimos 20 anos, o PT nunca fez menos que 45% dos votos nas eleições presidenciais.

Na tabela dos partidos com mais prefeituras, no campo político da esquerda, o PDT de Ciro Gomes com 314 e o PSB com 252, fizeram mais prefeitos eleitos do que o próprio PT. No PSB quem se destaca é João Campos, o jovem de 27 anos é filho do ex-candidato a presidente Eduardo Campos e acaba de se eleger prefeito de Recife, com uma boa vantagem sobre a candidata petista Marília Arraes.

As capitais ainda são um reduto onde a esquerda conserva sua força. Em Porto Alegre, a candidata comunista Manuela D’ávila (PCdoB), ex-candidata a vice-presidente na chapa do PT, conquistou exatos 45,37% dos votos. Em São Paulo, Boulos (PSOL) fez expressivos 40,62% dos votos na capital paulista, reduto tucano, depois de não atingir nem 0,6% na disputa presidencial de 2018. Esses números nos mostram que talvez os ventos da esquerda brasileira estejam mudando. O PT vai ter que fazer uma avaliação para 2022 se pretende lançar Haddad sozinho, ou se vai criar um fato novo, apoiando Manuela, Ciro Gomes ou Boulos, para enfrentar o popular presidente Jair Bolsonaro.

VAMOS COM CALMA

Ainda temos muito a discutir sobre o cenário pós-eleições, mas para não irmos com muita sede ao pote e para termos a possibilidade de refletirmos mais sobre os números, hoje encerramos por aqui. Um abraço e até mais.

Marcos Spilere

Marcos Spilere

Acadêmico de direito da UNESC, fascinado pelos livros, política e futebol. Sempre fui um defensor do debate, do diálogo e da construção de ideais. O conhecimento nos transforma. Vamos conversar sobre a política?