O Congresso é oficialmente do Centrão

Marcos Spilere

Fala, galera! Quem aí acompanhou as eleições para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados? O Planalto apostou em dois candidatos que acabaram sendo os vencedores em 1º turno. O que isso muda na prática?


Bom, primeiramente, as eleições de ontem mostraram o quão forte é a articulação do Presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, ele dominou geral, com liberação de emendas, mas dominou. Ele declarou formalmente apoio ao candidato Arthur Lira (PP) na Câmara dos Deputados e ao candidato Rodrigo Pacheco (DEM) no Senado Federal.


Lira foi eleito em 1º turno com 302 votos dentre os 513 possíveis. Em segundo lugar ficou o deputado Baleia Rossi (MDB), com 145 votos, que era apoiado pelo ex-presidente da câmara Rodrigo Maia, que em meados de janeiro conseguiu reunir uma frente ampla de apoio à Rossi, envolvendo PT, PSDB, MDB, PSB, DEM, PDT e outros.


Porém, o número de votos a Baleia Rossi ficou muito abaixo do esperado, isso porque houve dissidências em todos os partidos, inclusive no próprio MDB.

No Senado Federal, há dias que o resultado já era previsto. A oposição não conseguiu articular uma candidatura forte para concorrer contra o candidato de Bolsonaro e lançou Simone Tebet (MDB), mas que não teve apoio completo nem do próprio partido. O próprio PT apoiou o candidato do Bolsonaro. Os motivos ainda não ficaram claros. O resultado foi 57 votos para Pacheco, contra 21 de Simone Tebet.


O QUE MUDA?
O Centrão agora está definitivamente com o controle do Congresso, tendo o poder de pauta, ou seja, o que será discutido ou não pelos parlamentares. Além disso, o presidente da câmara seria o 2º na linha de sucessão da Presidência, logo atrás do vice-presidente. Eu disse “seria” porque Arthur Lira está impedido de entrar na linha sucessória, já que é réu em 2 ações por corrupção, uma delas desdobramento da Lava-Jato que apura o pagamento de propinas a Lira durante uma década. “cidadão de
bem”.


Bolsonaro, pelo menos no momento, está blindado de um processo de impeachment, já que quem decide acatar ou não os pedidos é o presidente da câmara, agora aliado do Presidente da República. Além disso, o Planalto liberou 3 bilhões em emendas parlamentares nesse mês de janeiro, um recorde na história do Congresso Nacional.


Talvez esse número explique porque a votação do candidato apoiado pelo presidente tenha sido tão alta. É o famoso “toma lá dá cá”. Quem foi o candidato em 2018 que falou que ia combater o tal toma lá da cá? Quem foi o candidato que em 2018 falou que não ia negociar com o centrão? Alguém pode me lembrar?


Outro importantíssimo fato também é que o agora ex-presidente da câmara Rodrigo Maia sai enfraquecido e pelas portas dos fundos da presidência, já que seu candidato teve uma votação pífia, onde seu próprio partido, o DEM, retirou o apoio a candidatura de Baleia Rossi e decidiu por permanecer neutro. Essa ação ocasionou a possibilidade de Rodrigo Maia deixar o DEM nas próximas semanas.

A FRENTE AMPLA NÃO CONSEGUE SE ARTICULAR


Há tempos se fala em construção de uma frente ampla para enfrentar o Presidente Jair Bolsonaro em 2022. PSDB, DEM, MDB, PDT, há tempos ventilam essa tese no meio político. A avaliação é de que os partidos teriam que abrir mão de seus projetos políticos para convergirem a um mínimo necessário e usar dessa força para derrotarem Bolsonaro. Acontece que muitos deputados desses partidos apoiam o Presidente. A prova disso foi a derrota de Baleia Rossi, que se fosse levar em conta o número de parlamentares dos partidos que declararam apoio a ele chegaria a 281
deputados, mas levou apenas 145, praticamente a metade.


2 ANOS FINAIS DO MANDATO
O governo Bolsonaro entra definitivamente nos dois anos finais desse mandato mais tranquilo em relação ao Congresso Nacional. O governo precisa fazer avançar as reformas tributárias e administrativa e terá que contar com a boa vontade do mandatário da câmara. O que não se sabe é quanto custará ao Planalto esse apoio do Centrão, e por quanto tempo. Há possibilidade também de loteamento de cargos e recriação de ministérios. Aguardemos.


É isso, galera! Fiquemos atentos às movimentações do Congresso Nacional.

Até a próxima!

Marcos Spilere

Marcos Spilere

Acadêmico de direito da UNESC, fascinado pelos livros, política e futebol. Sempre fui um defensor do debate, do diálogo e da construção de ideais. O conhecimento nos transforma. Vamos conversar sobre a política?