Viajando sozinha: Partiu Londres!!!

Adrieli Roman

Relembrando a história agora parece algo tão simples, mas naquele momento foi incrível, era minha primeira viagem sozinha. Apesar de me sentir corajosa, e querer encarar tudo de uma vez, meu medo por ser mulher e estar viajando sozinha, invadia meus pensamentos a todo instante.

Documentação em mãos, era hora de partir novamente. Eu mal tinha me recuperado das despedidas do Brasil e já estava ali dando tchau mais uma vez, minha trilha sonora dramática aquele dia foi “detesto despedidas, do Lagum”.

 Era final de julho e pra ajudar, era alta temporada, as passagens de avião estavam caríssimas, logo, pesquisando por opções mais baratas, acabei escolhendo viajar de ônibus. Mesmo tendo em mente que seria uma viagem muito mais longa e cansativa.

Minha aventura começou antes mesmo de sair da Itália. O ônibus (com destino a Londres) partiria de Milão, porém a cidade que eu estava, ficava cerca de 2h de distância, e para chegar até lá, eu ainda precisaria pegar um trem. O único detalhe era que, eu nunca tinha andado de trem na vida, muito menos um trem na Itália. Mas não há nada que não podemos aprender não é mesmo?

La estava eu, parada na fila, esperando minha vez para comprar meu bilhete, olhando o tradutor e treinando minha fala. Fui até o guichê e pedi um bilhete, obviamente não foi assim fácil!!

Fiquei 5 minutos tentando explicar o nome do destino, só depois de um bom tempo consegui comprar. A segunda etapa era tentar entender o que fazer com o bilhete, olhava os painéis de horários, olhava as entradas e saídas, não fazia ideia para aonde ir. Pedi ajuda para algumas pessoas, misturei italiano, inglês, português e linguagem de sinais é claro, no final deu tudo certo.

Depois de entrar no primeiro trem, e chegar na primeira estação, eu me senti ainda mais perdida, era uma estação gigante e muito mais movimentada, no começo tentei seguir algumas placas, mas acabei me perdendo, acabei pedindo ajuda novamente, mas ali as pessoas não tinham muita paciência não, depois de andar muito, e descer varias escadas carregando minhas malas, cheguei em uma plataforma, porém, o trem sairia da plataforma no outro lado do trilho, bom, la fui eu…subir e descer escadas novamente até chegar no outro lado.

O vagão não estava muito cheio. Na minha frente sentou uma menina, em poucos minutos ela recebeu uma ligação, e começou a conversar em português. Meus olhos brilharam e eu só pensava, “quando a gente menos espera sempre encontra um brasileiro pelo mundo”. Esperei ela terminar a ligação, me apresentei, conversamos um pouco e depois pedi ajuda pra ela, mostrei a estação que eu precisaria descer, e ela me explicou tudo que eu precisava fazer para chegar até lá.

Até esse momento eu estava satisfeita comigo mesma, mas ainda muito ansiosa pelo que estava por vir. Afinal era só a primeira etapa da viagem. Preocupada com os imprevistos eu tinha saído bem cedo de casa, então tinha bastante tempo. Na minha cabeça estava tudo esquematizado, iria procurar pela rodoviária, achar um lugar para sentar, carregar a bateria do celular, usar o banheiro, comer algo e aguardar até o horário da partida do ônibus. Não demorou muito para todo meu planejamento acabar.

Logo que cheguei, percebi que não tinha lugar para sentar, nem lanchonete e muito menos banheiro. Eu coloquei minhas malas no chão, sentei encima delas, e lá fiquei, se eu saísse perdia meu lugar e ainda teria que carregar minhas malas por toda parte. Ali sentada observava o movimento constante de pessoas, viajantes de vários lugares, alguns com muitas malas, outros apenas com mochilas, ouvia os mais diferentes idiomas, pessoas felizes, outras preocupadas. Mas todas seguindo seus caminhos. Eu estava tão atordoada que nem pensava em registrar aquele momento, essas são as poucas fotos que fiz aquele dia.

Eu estava tranquila por ter chegado cedo, mas também não aguentava mais esperar. Eram 8 da noite, eu levantei e fui até a plataforma de partida que indicava no meu bilhete. Um movimento intenso e constante de pessoas e ônibus chegando e saindo a todo minuto.

Com olhar atento nos painéis, esperando a chegada do meu ônibus, aproveitava para observava todo aquele movimento, e sentia uma felicidade de estar ali, mesmo que sozinha, era uma grande realização. Novamente sentada em cima das malas, o horário de partida já tinha passado e nada do ônibus chegar, logo eu já sentia que algo ia dar errado.

Comecei a me preocupar, a noite chegava eu já estava cansada, com fome, com sede, e a preocupação só aumentava. Depois de 45min de atraso, comecei a conversar com as pessoas ao redor, eu notava quem também estava com cara de preocupado, checando o celular, e arriscava perguntar se iam para o mesmo destino que eu.

Perguntei para alguns motoristas se sabiam de algo, a maioria dizia que não, outros até disseram que o ônibus já havia partido. Pelo menos isso eu sabia que era impossível, eu estava na plataforma uma hora antes da partida, eu teria visto de qualquer maneira. O local não tinha nenhum guichê da empresa, nenhuma área de informação.

Já se passavam mais de 1h de atraso. Finalmente o ônibus chegou, e acreditem, o painel não indicava o número e nem o destino, foi pura sorte de estar ali perguntando, motorista por motorista e mostrando minha passagem. Estava tão cansada que apenas joguei minhas malas no bagageiro e subi, arrumei minhas coisas e antes de dormir fui ao banheiro para pelo menos trocar de roupa e tomar um banho “de lencinho”. Quando eu achei que nada mais podia piorar, o banheiro,  não tive coragem de usar, não tinha papel, não tinha água, estava sujo, mas era muuuito sujo mesmo!!

Eu voltei para meu assento, mesmo sem conseguir usar o banheiro e tentei dormir.

O trajeto da viagem era esse: Sairíamos de Lampugnano pela noite e chegaríamos a Paris pela manhã. Teríamos 1h20 de espera pelo segundo ônibus que iria para Londres. Por causa do atraso, não cheguei a tempo de pegar o segundo ônibus.

Conheci uma parte de Paris de dentro do ônibus, de longe até consegui ver a Torre Eiffel, e naquele momento, mesmo de longe, foi que a ficha começou a cair  de tudo que estava por vir.

Quando chegamos na rodoviária, apesar de o ônibus já ter partido, eu vi uma outra empresa que estava com saída em 10 minutos, corri para conversa com o motorista, expliquei minha situação e gastei meus últimos euros com uma nova passagem que não estava nos meus planos. Por fora eu estava aliviada, finalmente estava indo tudo bem, o ônibus era incrível, limpo e muito confortável. Naquele mesmo momento comecei a encaminhar mensagens para a empresa anterior, explicando toda situação, guardei todos os recibos, tirei fotos, e aguardei a resposta deles (eles me reembolsaram 2 meses depois de tudo isso).

Após algumas horas chegamos a uma parte onde passaríamos pela imigração. Sim, mesmo de ônibus passamos por la. Passada a imigração, seguimos para a balsa, na verdade, meu coração gelou, quando vi o ônibus entrando em uma espécie de “vagão gigante s”. Aquele era o Eurotúnel,foi uma experiência incrível, apesar de estar com um pouco de medo,foi cerca de meia hora para atravessar e quando saímos, o dia cinza e chuvoso indicava que finalmente havia chego em Londres.

fonte: imagens da internet

* O Eurotúnel é um túnel ferroviário que liga o Reino Unido, ao norte da França, sob o Canal da Mancha (imagens da internet)

Adrieli Roman

Adrieli Roman, apaixonada por viagens e em busca de novas experiências pelo mundo! Atualmente moro em Londres, e pelo meu instagram (@adrieliroman), você pode acompanhar mais de perto minha rotina por aqui!